Renata Rodrigues

Renata Conceição Lopes Rodrigues é astrofotógrafa, professora da SME/RJ, tutora na CEDERJ/UFF e mestre em Ciências pela ENSP/FIOCRUZ. É formada em Direito (UFRJ), Filosofia (UERJ), Ciências Sociais (UFRJ) e História (UFF). É pós-graduada em Direito do Trabalho e cursa especialização em Astronomia com Ênfase em Planetologia (Academy Space). Atua em diversas áreas acadêmicas, com experiência em tutoria, conciliação jurídica e pesquisa em educação e saúde além de ser graduanda em Química e Engenharia (Estácio de Sá). 

Resumo:
Os telescópios submilimétricos são instrumentos de observação astronômica projetados para captar radiação eletromagnética na faixa de comprimentos de onda submilimétricos (0,1 mm a 1 mm). Esses telescópios desempenham um papel crucial na exploração de objetos cósmicos frios e distantes, como a formação de estrelas, galáxias e a poeira interestelar. Este artigo explora a história dos telescópios submilimétricos, suas características técnicas, as principais descobertas proporcionadas por esses telescópios e sua importância na astronomia moderna.


1. Introdução

A astronomia moderna é uma ciência que depende fortemente de telescópios e de outras tecnologias para explorar o universo além da luz visível. O espectro eletromagnético é vasto e inclui radiações que não são visíveis ao olho humano, como raios-X, micro-ondas, e a radiação submilimétrica. Os telescópios submilimétricos, que captam radiação com comprimentos de onda entre 0,1 mm e 1 mm, desempenham um papel importante na observação de fenômenos cósmicos como a formação de estrelas, galáxias distantes e a poeira interestelar. Esses telescópios têm permitido avanços significativos na compreensão do universo, oferecendo uma perspectiva única de áreas que não são acessíveis a telescópios que operam no espectro visível ou no infravermelho.

2. História dos Telescópios Submilimétricos

O desenvolvimento dos telescópios submilimétricos é relativamente recente, surgindo em resposta ao aumento da tecnologia de detectores sensíveis e à necessidade de observar fenômenos astronômicos invisíveis no espectro de luz visível.

  • Década de 1960-1970: Durante essas décadas, a pesquisa sobre a radiação cósmica no infravermelho e nas regiões de micro-ondas levou ao desenvolvimento de tecnologias para observar a radiação submilimétrica. A partir dessa época, os astrônomos começaram a perceber que muitas áreas do universo, como nuvens de gás e poeira, emitiam radiação predominante nessa faixa de comprimento de onda.
  • 1980s: O conceito de telescópios submilimétricos foi impulsionado pelo desenvolvimento de detectores supercondutores e criogênicos, que permitiram a observação de radiação submilimétrica com precisão. Isso culminou no uso do telescópio submilimétrico no deserto de Atacama, no Chile, que ofereceu condições ideais para observações precisas devido à seca e à alta altitude.
  • 1990s – 2000s: O avanço na tecnologia de detectores e a construção de telescópios especializados, como o Herschel Space Observatory e o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), levou a um aumento nas descobertas astronômicas. O ALMA, por exemplo, começou suas operações em 2013 e é um dos maiores e mais avançados telescópios submilimétricos do mundo.

3. Como Funcionam os Telescópios Submilimétricos?

Os telescópios submilimétricos capturam radiação de comprimentos de onda entre 0,1 mm e 1 mm. Eles operam de forma semelhante aos telescópios ópticos, mas em vez de lentes ou espelhos para focar luz visível, os telescópios submilimétricos usam antenas e detectores especializados para captar ondas submilimétricas. A radiação submilimétrica é gerada por objetos frios no espaço, como nuvens de gás e poeira, que não emitem radiação no espectro visível.

Características principais:

  • Antenas e Detectores Especiais: A radiação submilimétrica é muito fraca e precisa de detectores altamente sensíveis para ser observada. Telescópios submilimétricos geralmente são equipados com detecção supercondutora ou bolômetros, que são instrumentos que podem medir a radiação submilimétrica.
  • Temperatura Criogênica: Como a radiação submilimétrica é fraca e a tecnologia de detecção é sensível à temperatura, os telescópios submilimétricos precisam operar em condições criogênicas (muito frias), o que é alcançado usando criostatos (equipamentos para manter baixas temperaturas) para garantir o máximo de sensibilidade.
  • Observações em Altitudes Elevadas: Muitas instalações submilimétricas estão localizadas em altitudes elevadas, como o deserto de Atacama, para reduzir a interferência da atmosfera da Terra, que absorve parte da radiação submilimétrica.

4. Características Técnicas dos Telescópios Submilimétricos

  • Comprimento de Onda: A principal característica dos telescópios submilimétricos é sua capacidade de detectar radiação com comprimentos de onda que variam entre 0,1 mm e 1 mm. Essa faixa inclui radiação proveniente de nuvens de gás, poeira cósmica e as regiões frias do espaço.
  • Resolução Espacial e Sensibilidade: A resolução espacial desses telescópios depende do diâmetro de suas antenas ou espelhos. Telescópios como o ALMA, que possui um conjunto de antenas interconectadas, possuem uma resolução extremamente alta, permitindo observações detalhadas de objetos distantes e fracos.
  • Tecnologia de Detecção: Os detectores usados em telescópios submilimétricos são compostos por materiais supercondutores ou bolômetros criogênicos, que são sensíveis à radiação de micro-ondas e submilimétrica, captando sinais que são posteriormente analisados para obter imagens ou dados espectroscópicos.

5. Aplicações dos Telescópios Submilimétricos na Astronomia

A observação no espectro submilimétrico oferece insights únicos sobre o universo, permitindo estudar objetos que emitem radiação em comprimentos de onda submilimétricos. Alguns dos principais usos desses telescópios incluem:

  • Formação Estelar e Galáctica: Telescópios submilimétricos são fundamentais para observar a formação de estrelas e galáxias. As regiões de formação estelar frequentemente contêm grandes quantidades de poeira e gás que emitem radiação submilimétrica. O ALMA ajudou a mapear a formação de estrelas em regiões densas, onde a luz visível não pode penetrar.
  • Observação de Poeira Interestelar: A poeira cósmica, que desempenha um papel importante na formação de estrelas e planetas, emite radiação submilimétrica. Telescópios como o Herschel Space Observatory e o ALMA foram cruciais para estudar a distribuição de poeira no universo.
  • Estudo de Galáxias Distantes: As galáxias distantes em estágios iniciais de formação emitem radiação intensa na faixa submilimétrica. Os telescópios submilimétricos são capazes de estudar essas galáxias, ajudando a entender a evolução galáctica.
  • Cosmologia e Origem do Universo: A radiação submilimétrica também é usada para estudar o fundo cósmico de micro-ondas, ajudando os astrônomos a entender a origem e evolução do universo, desde o Big Bang até os dias atuais.

6. Principais Telescópios Submilimétricos

  • Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA): Localizado no deserto de Atacama, no Chile, ALMA é um dos maiores e mais avançados telescópios submilimétricos. Ele é composto por 66 antenas e é capaz de realizar observações detalhadas de objetos cósmicos em múltiplos comprimentos de onda.
  • Herschel Space Observatory: Lançado pela Agência Espacial Europeia (ESA), o Herschel foi um telescópio espacial que operou de 2009 a 2013. Ele era especializado em observações no infravermelho e submilimétrico e fez contribuições significativas para o estudo da formação de estrelas e galáxias.
  • Submillimeter Array (SMA): Localizado no Havai, o SMA é outro importante telescópio submilimétrico. Com um conjunto de oito antenas, o SMA é usado para estudar a formação de estrelas, galáxias distantes e sistemas planetários.

7. Conclusão

Os telescópios submilimétricos são uma parte essencial da astronomia moderna, permitindo aos cientistas estudar fenômenos cósmicos que não podem ser observados com telescópios ópticos convencionais. Esses telescópios têm contribuído para o entendimento da formação de estrelas e galáxias, da poeira interestelar e dos primeiros momentos do universo. Com o contínuo avanço das tecnologias de detecção e observação, como o ALMA, espera-se que novas descobertas surjam, expandindo ainda mais nossa compreensão do cosmos.


Bibliografia:

  • BEVAN, A. (2017). Millimeter and Submillimeter Astronomy: Observations and Instrumentation. Springer.
  • HUGHES, D. H., & RYGL, K. L. J. (2018). The Atacama Large Millimeter/Submillimeter Array (ALMA) and the Exploration of the Universe. Cambridge University Press.
  • CLEMENTS, D. L. (2020). Submillimeter Astronomy: New Frontiers in the Study of Cosmic Phenomena. Wiley-VCH.
  • ALMA (2021). “Atacama Large Millimeter/submillimeter Array.” Disponível em: https://www.almaobservatory.org
  • European Space Agency (2022). “Herschel Space Observatory.” Disponível em: https://www.cosmos.esa.int/web/herschel

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *